segunda-feira, 19 de março de 2012

Pois...às vezes nã dá...

Sábado passado a malta foi às rampas para uns bonecos e foi ocasião de presenciar, uma vez mais e ao vivo, a segurança a funcionar na aviação. Nada de especial, note-se, o que se passou - coisa até mais frequente do que se julgará à primeira vista - mas serve para constatar o quanto a segurança é um valor presente e concretizado neste ramo das máquinas voadoras com gente dentro...
O habitual voo da Aigle Azur - o AAF337 proveniente de Orly (ORY/LPFO), operado nesta ocasião pelo A321 F-HBAB - aterrou por volta das 18:00 e, quando estava na final, já um voo da EasyJet - o EZY6245 vindo de Bristol (BRS/EGGD), operado pelo A319 G-EZGH - acabava o downwind leg para a pista 05, preparando-se para fazer a perna-base e, após isso, virar para a final.
Problema é que o AAF faz um flare um bocadiiiiiiiito longo e vai tocar um bocado lá à frente. Pista não é problema (tem muita pela frente) mas já não vai dar para parar e sair logo no taxiway Bravo - isso das travagens bruscas e duras é de evitar, sempre que possível. Por isso deixa rolar, parar suavemente e vai lá para os lados da 23, voltar e fazer backtrack para o taxiway.
Durante isto tudo o EZY - que já havia prolongado o downwind leg (já o ATC queria deixar mais espaço e tempo entre as aterragens) virava, ainda muito longe, para a final com o AAF ainda no backtrack na pista...e devem ter começado umas cabecinhas a pensar - vai dar ou não vai dar?
O Robert DeNiro, no filme Ronin (um grande filme que aconselho vivamente), tem uma frase fantástica que serve muitas vezes para a vida: When there is doubt...there is no doubt (Quando há dúvidas...não há dúvidas!). E, na aviação, também deve ser assim: dúvidas significa risco e risco não interessa. Assim se dúvidas houve no sábado foram de segundos: Nem vale a pena ver se dá!
Assim o EZY interrompeu a final, deu uma volta de 360º e voltou, já com a pista bem desimpedida, para executar uma aterragem normalíssima.
Volto a dizer: isto não foi nada de especial - e quem gosta ou anda nisto da aviação sabe perfeitamente disso. Decerto que pessoas mais leigas e algumas cabecinhas mais sensacionalistas e disparatadas poderiam ver nisto uma iminência de tragédia, de drama, de horror (nas imortais palavras do Artur Albarran), de um acidente evitado por um triz, ao último segundo...Nada disso. Nada mesmo. Tratou-se apenas de um pequeno desvio de rotina e da aplicação de procedimentos básicos de segurança - que cortaram, logo à partida, qualquer hipótese de haver problema.
O mesmo principio que nos leva, na estrada, a abrandar a velocidade quando nos apercebemos que não estamos a manter a devida distância de segurança para com o carro que circula à nossa frente.
Isto é a segurança a funcionar na aviação. E é por isto que, estatísticamente falando, as partes mais perigosas de uma viagem de avião continuam a ser os trajectos casa-aeroporto e aeroporto-casa...
A321-211, F-HBAB, Aigle Azur e A319-111, G-EZGH, EasyJet Airline:

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